quarta-feira, 25 de abril de 2007

Crónica de uma derrota anunciada !




25 de Abril de 1974
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8/8 . O "lavar dos cestos"
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Que o sr. general António de Spínola foi enganado, é uma constatação a partir dos factos.
Consta que Napoleão Bonaparte alguma vez disse :
“Que a divindade me proteja dos meus amigos que dos meus inimigos me encarrego eu”.
E a divindade não protegeu o general Spínola !
É quase incompreensível, como um homem com tão grande experiência humana se tenha deixado levar pelo “canto de sirene” de uns e outros.
Não sabia Spínola do acordo de Paris ?
Ter-se-á colocado, ou foi colocado, numa redoma tão espessa que lhe filtrava a realidade ?

Acreditaria o general Spínola que, em Março 1974, a sua proposta feita através do livro “Portugal e o Futuro” tinha alguma hipótese de concretização ?
Não sabia, ou não queria saber, das decisões tomadas por quem conduzia os “mandaretes de turno” ?

Na entrevista concedida a Fernando Pereira por Pierre de Villemarest, e publicada no "Novo Século" de 01/08/1982, este último afirma sobre Spinola :
"Apesar de muito avisado, antes e depois do 25 de Abril, comportou-se como um completo ignorante politico, destruindo o futuro dos portugueses. (…) Hoje, necessariamente que a classificação a dar-lhe, poderá ser de traidor ou idiota. Prefiro a última, por mais verdadeira"
(José Almeida da Fonseca in "O livro negro do 25 de Abril" - edições FP - livro que me foi pessoalmente dedicado pelo autor em 06/10/83)

O corporativo “movimento dos capitães” politizou-se pela determinação que alguns colocaram, e provavelmente com razão, no derrube das estruturas de um regime obsoleto e reumatizante.
No entanto, a maioria dos seus simpatizantes e seguidores, de qualquer borde politico, mais não foram que peças de um “puzzle” que outros se entretiveram a montar.
Uma vez mais é manifesta a preponderância dos “poderes organizados” sobre as políticas dos Estados, tal como a influência de “organizações de poder” na nossa vida quotidiana.

A massificação do conhecimento através das permanentes campanhas de "desinformação" e "informação controlada" é uma realidade da nossa sociedade, e tanto do lado das chamadas “esquerdas” como das apelidadas “direitas”, houve e há, quem não se aperceba que a maioria dos dirigentes de movimentos, partidos e organizações politicas, são colaboradores inconscientes de um “cripto-poder” que os controla e dirige.
A actividade política, que na Antiguidade Clássica era realizada com uma finalidade altruista, converteu-se num objectivo por si mesmo, o profissionalismo politico organizou-se em "grupos de poder" e as lutas partidárias internas são bem mais importantes, para muitos, que a consecução de ideais de justiça, bem-estar e conhecimento.

A insistência em filtrar, em eliminar os mais competentes, obviamente os menos seguros para o "sistema", levou os aparelhos partidários a colocar os mais incompetentes nas posições chave das organizações.
Os incompetentes não nomeiam competentes… senão deixavam de ser incompetentes !
As caricatas manifestações de ignorância dos políticos norte-americanos já não são seu apanágio exclusivo, pois os politicos europeus também já nos deliciam com a sua insolente ignorância.
Recentemente alguém me dizia (um ponto de vista que não comparto) que políticos como Chirac, Bush, Zapatero ou Pinto de Sousa, não são tontos como parecem… esforçam-se para "assim parecer" aos tutores e demonstrar-lhes que nada têm a recear quanto a eventuais manifestações de irreverência política ou cultural !

O 25 de Abril de 1974 não foi uma invenção "caseira", mas sim o resultado de um plano internacional destinado a "normalizar" a situação politica portuguesa dentro do quadro da Nova Ordem Mundial.

Foi planeado com muito antecedência, obtida a anuência politica internacional, determinado o enquadramento das organizações especializadas (KGB, CIA etc ...), assegurado o apoio interno de agentes, colaboradores e "inocentes úteis", repartidas as prebendas e determinada a data da intervenção e organizado o "PERT" (Planeamento).
A experiência chilena permitiu que o controlo da situação não fosse perdido.

Foi sintomático o movimento de apaziguamento lançado pelo "aparatchik" Melo Antunes quando surgiram os sintomas de que os paranóicos do marxismo queriam transformar Portugal numa "democracia popular".
O medo de que um novo Pinochet surgisse obrigou a uma rápida manobra de reposicionamento das prioridades que, com o principal objectivo atingido (entrega dos territórios africanos), passaram a incidir sobre a necessidade de acalmar o ânimo da população.
Os partidos politicos, as eleições, a credulidade e a ignorância ... provocaram o regresso à "paz das ovelhas" !

A democracia não é uma organização social específica e menos ainda uma filosofia de existência, mas sim um processo que permite, dentro de um "sistema politico", substituir governos por decisão de uma maioria que vota condicionada numa alternativa consensuada pelo próprio "sistema".
A liberdade de escolha do regime dito democrático, é uma falácia, é um atentado à inteligência !
Cada vez mais o "cripto-poder" vai confeccionando o seu sistema politico-social, juntando, misturando e amalgamando, dando forma ao Golem liberal-marxista cuja principal tarefa é bloquear qualquer opção alternativa.

Deveremos permanecer atentos aos acontecimentos e ter presente a importância fundamental em não resumir a História aos nascimentos e mortes de reis e presidentes, ou às datas das vitórias de uns que serão, seguramente, datas de derrotas para outros.
Pensemos a História como um contínuo, não um caleidoscópio, mas um conjunto uniforme em que cada ano, cada dia ou cada hora, têm igual importância.
Afirmemos a nossa capacidade em desenvolver interrogações filosóficas, dúvidas metódicas que nos permitam ser criticos, com tudo e com todos, incluindo connosco mesmo !

O 25 de Abril de 1974 foi uma monstruosa falácia em que a maioria dos portugueses, de todo o espectro politico, sairam perdedores.
Portugal continua pobre, (des)governado por uma oligarquia rica !
Até quando ?

2 comentários:

Anónimo disse...

Las magistrales ocho entregas del Profesor Lugano sobre los acontecimientos del 25 de abril de 1974 son textos de obligada lectura para quien quiera comprender la "intrahistoria" del fenómeno. Me gustaría conocer más en profundidad si la labor del General Antonio Ramalho Eanes puede calificarse de positiva para la reconducción del proceso hacia cauces de olvidada sensatez. Muchas gracias al Sr. Lugano, por ilustrarnos en la Net, siendo su trabajo equivalente al de don Ismael Medina en Vistazoalaprensa.com. Un saludo.

António Lugano disse...

D. Gelmirez, o senhor honra-me com o apreço que dedica ao meu despretencioso trabalho.
A actuação do sr. Ramalho Eanes insere-se no aproveitamento que o "sistema" fez de "obedientes e pouco despertos funcionários".
Recordo aquela anedota que revela um acontecimento paradigmático quanto à capacidade intelectual de uma grande parte dos militares que obtiveram prebendas politicas após a "golpada" :
"Quando alguém lançou a metáfora de que o sr. Saraiva de Carvalho (Otelo) era inteligente... ele acreditou !"