sexta-feira, 20 de abril de 2007

Crónica de uma derrota anunciada !





25 de Abril de 1974


3/8 - A preparação
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No seu livro “Portugal e o Futuro”, o general Spinola desenvolve um texto bem alicerçado do qual ressalto alguns importantes aspectos :

Afirma a impossibilidade de uma solução militar em África
“Atente-se que não há memória de se ter ganho uma guerra subversiva no plano militar …” (pag. 239)

Propõe uma solução politica pela via federativa
“A tese federativa, para a qual somos assim impelidos …” ( pag. 196 e seguintes )

Aconselha acordos priveligiados com a Europa mas, sem associação politica
“… o facto de não podermos ser deixados à margem da Europa, correndo o risco de comprometer o bem-estar social e a ordem e tranquilidade internas se nos forem fechadas as portas do Mercado Comum Europeu” (pag. 86)

“… julga-se que a nossa “integração” não deva ir além de uma “união económica” (pag. 194)

Chama a atenção para o risco da subversão comunista
“Vive-se na preocupação, aliás fundada, da subversão comunista” (pag. 238)

Esta afirmação de fé na solução federal, leva-nos a reler o Plano Colonial da Oposição Portuguesa publicado pelo “Movimento Nacional Independente” do general Humberto Delgado, candidato à Presidência da República em 1958.
Nesse documento, saliento :

nº 3 - “…a Oposição recusa-se a acreditar que a calma e o sossego imperam nas colónias portuguesas …”

b) nº 4 - “A Oposição reconhece o direito dos povos à autodeterminação, com lógica e acertada condição de que o exercício deste direito é impossivel … ( e oposto ) … aos excessos das tribos capazes de ódios primitivos e selváticos. …”

c) nº 8 - “A Oposição não considera a África como propriedade exclusiva dos negros, mas sim de todos os africanos, especialmente de todos os que ali nasceram. …”

d) nº 11- “A Oposição pretende estabelecer a República Federal dos Estados Unidos de Portugal.”

Enfim, com 16 anos anos de diferença, a proposta de Spinola é “um pouco mais do mesmo”, acrescido do problema da inserção de Portugal no Mercado Comum Europeu.
Qualquer das duas posições é contradictória, pelo menos na teoria, com a solução incluida no livro “A Nação Una”, apresentada em Abril de 1953 pelo general Norton de Matos, grão-mestre maçónico e candidato à Presidência da República em 1948 :

* “No Parlamento da Nação Única, com sede em Lisboa, serão representadas todas as outras partes da Nação, por meio de deputados por elas eleitos em número proporcional ao dos seus habitantes civilizados e assimilados”.

Como se depreende, a “Nação Única” incluia Portugal continental e os territórios de África (Ultramar).
Qualquer dos textos, datados de 1953, 1958 e 1974, manifesta um inelutável apreço pela manutenção dos territórios africanos no sistema politico português.
Porém, o que se trama agora é a entrega dos territórios de África, "com a maior prioridade", logo após o derrube do Regime.
O general Spinola não o sabia ou … não o queria saber ?

A 16 de Março de 1974 uma coluna militar sublevada sai do quartel das Caldas da Rainha em direcção a Lisboa, constando que a saida de uma outra coluna de Lamego, não se cumpriu.
Marcelo Caetano refugiou-se em Monsanto, como previsto e a coluna rebelde foi detida antes de chegar a Lisboa.
Os golpistas testavam o sistema de defesa do Regime ; o golpe, como previsto, seria militar e estava para próximo.

Entretanto iam-se consolidando informações sobre o “movimento dos capitães” que, para muitos dos participantes, era puramente corporativo, mas que na realidade estava, desde o início controlado pelos marxistas.
Alguns exemplos :
1. * a reunião para apresentação de um programa do auto-intitulado Movimento das Forças Armadas, realiza-se em casa do coronel na reserva Marcelino Marques, identificado como membro do partido comunista.

2. * depois de várias tentativas de redigir o citado programa, foram nomeados redactores do mesmo :
Ten. Coronel Costa Brás ; Major Melo Antunes e Major Moreira de Azevedo, os dois últimos conotados com o partido comunista.
Melo Antunes, co-signatário da chamada plataforma de S. Pedro de Muel, que exige “uma descolonização imediata”, é amigo pessoal do sr. José Tengarrinha, notório hierarca marxista.

3. * em Setembro de 1973, cento e trinta e seis oficiais à civil, reunem-se numa quinta do Monte Sobral, próximo de Évora, residência de um membro do partido comunista, na presença do Coronel Vasco Gonçalves, membro do mesmo partido.

A situação evolui rápidamente e sabe-se que vários peritos de contra-espionagem da Alemanha de Leste, falando fluentemente o português/brasileiro, têm sido infiltrados em Portugal para prestarem apoio à organização do "golpe".

2 comentários:

Anónimo disse...

Una curiosidad......¿La planta escogida como ilustración gráfica es un cardo? ¿Pretende significar lo "áspero" del proceso golpista/revolucionario abrileño?

António Lugano disse...

Es Usted un muy bueno observador...