sábado, 21 de abril de 2007

Crónica de uma derrota anunciada !





25 de Abril de 1974
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4/8 Os cenários
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Vários cenários “revolucionários” são então considerados possiveis.
Uns de nítida “inspiração” governamental, embora de tendências variadas :
a) revolta militar, que seria anulada pelas forças do Regime, como foi a tentativa de 16 de Março de 74 ;
b) revolta militar, dirigida por elementos “à direita”, chefiados pelo general Kaulza de Arriaga ;
c) revolta militar, que visaria uma remodelação do Regime, fazendo sair o Presidente da República, Almirante Américo Thomaz, e os salazaristas mais ortodoxos, mantendo Marcelo Caetano.

Estas hipóteses demonstravam claramente que o Regime continuava sem ver onde punha os pés, e estava em vias de pisar a casca de banana que lhe haviam colocado no caminho.
Marcelo Caetano mantinha a convicção que a remodelação do Estado o manteria no Poder, e que o seu adversário mais perigoso era Kaulza de Arriaga…

Outro cenário, este de clara influência norte-americana, apostava numa revolta militar, com exigências de democratização politica e abertura de negociações com os movimentos “independentistas”.

E um último (the last but not the least") com "carimbo e selo" do Kremlim, propunha a revolta militar, controlada pelo partido comunista, que teria como objectivo “entregar as colónias” e “transformar Portugal num país "democrático" e (óbviamente) socialista”

Pragmáticos, os norte-americanos compreenderam que o "movimento boy-scout" que propunham iria ser rapidamente devorado pela "máquina marxista". Não tinham alternativa senão aceitar o golpe comunista (incluindo a entrega sem negociações dos territórios de África) e tentar "recuperar" a situação no momento da “consolidação” !
Sendo que, a entrega dos territórios africanos era exactamente o propósito de Moscovo/partido comunista, e isso mesmo tinha sido claramente afirmado pelo PC através da Plataforma de S. Pedro de Muel.

A “movimentação” dos comunistas era estratégicamente correcta pois, obtendo o beneplácito dos “concorrentes” que se encarregariam de bloquear qualquer reacção do governo, conseguiu obter mãos livres para estruturar e realizar o “golpe”, arrastando com eles os ingénuos do “movimento dos capitães”.

Dezenas de informações chegavam diáriamente de todo o país à PIDE, à Policia Militar, à Legião Portuguesa … até à Guarda Fiscal, sobre reuniões clandestinas, tipografias a trabalhar noite e dia de porta fechada, manifestações de arrogância de elementos comunistas normalmente discretos, etc, etc, sem que nenhuma medida cautelar seja tomada.
Para tranquilizar certos agentes mais recalcitrantes em aceitar a “calma imposta", a hierarquia diz-lhes que é uma táctica para “fazer sair os comunas da toca e depois arrumar com eles” (sic).
O processo de adormecimento vem “de cima” e é imposto às bases.

Na região de Almada, próximo de Lisboa, o padre de determinada freguesia conhecia o plano de movimentação e intervenção dos comunistas numa grande empresa da zona pois, pela viúva de um capataz comunista recentemente falecido em acidente, tinha-lhe sido entregue um documento com essas precisas informações ! A informação foi remetida, pelo padre em questão, à hierarquia eclesiástica de Lisboa e… sumiu !

Vários navios de guerra norte-americanos estacionavam perto da costa portuguesa, em frente a Lisboa, e no aeroporto das Lages (Açores) observa-se um inusitado movimento de aviões militares norte-americanos “ornamentados” de estranhas antenas !
Segundo uns “especialistas” franceses, o procedimento dos norte-americanos era habitual quando participavam em apoio de algum "movimento rebelde", utilizando alta-tecnologia para "intoxicar" as comunicações do adversário e facilitar as comunicações dos “amigos”. Últimammente assim tinham actuado na Grécia e no Chile !
Para esse procedimento, o “movimento revoltoso” em Portugal incluia um técnico de transmissões, Ten. Coronel Garcia dos Santos, formado e aconselhado pelos norte-americanos e por eles apoiado com o material mais sofisticado, embarcado a bordo de aeronaves que sobrevoariam o território nacional a grande altitude e navios da marinha de guerra, também especializados nessas acções.
Nada havia sido descuidado e o que se preparava não era exactamente uma “intentona militar”, como continuavam a cacarejar alguns pobres diabos do governo Caetano, que permanecia impávido, mas pouco sereno, com a sua “evolução na continuidade”.
O que se prepara é um golpe de Estado, pois está infiltrado no Regime (e no próprio governo), e é apoiado por forças militares constituidas, em grande parte, por homens de boa vontade que, conscientemente ou não, mais não são que "inocentes úteis" nas mãos dos golpistas !

Quanto aos politicos não-marxistas … nervosos e saltitões, batiam palmas, davam cobertura aos comunistas nas suas acções de propaganda e desestabilização e … faziam contas à vida, salivando de gozo perante a oportunidade, que previam, em ocupar uma boa posição na "democracia" que se avizinhava.
Ainda a procissão não tinha saido do adro e já estavam a dividir as esmolas. Estava aberta a caça ao “tacho “ !

Após os acontecimentos do Chile (1973), era o primeiro enfrentamento entre os dois capitalismos, o Privado e o de Estado, que entre eles “jogavam” o controlo de regiões tão fabulosamente ricas em matérias-primas como Angola ou Moçambique.
São as duas mãos de um mesmo Poder na aplicação do conhecido movimento da "Tese - Antitese e Sintese" !

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