25 de Abril de 1974
1/8 - O contexto
No ano de 1967 o governo português de Antonio Salazar mantinha duas opções, consideradas vitais para o regime, e que eram perfeitamente antagónicas em termos de estratégia política a longo prazo.
Por um lado, facilitava (de forma envergonhada) a "exportação" de mão-de-obra com o duplo objectivo de "aliviar a pressão social interna" e "manter uma corrente monetária favorável ao Estado", através dos ingressos bancarios provenientes da emigração.
Por outro lado, mantinha acções militares nos territórios africanos, tentando manter a imagem de País multiterritorial e multiétnico !
Situação perfeitamente paradoxal pois, como podia um Estado defender uma Pátria pluri-continental, com tudo o que isto significa em termos culturais e financeiros, quando recorria à emigração de centenas de milhares de portugueses para equilibrar um orçamento descompensado pela guerra em África ?
Como podia Portugal pretender manter o controlo de imensos territórios africanos se não tinha capacidade para explorar as potencialidades da matéria-prima local e convertia a força de trabalho do país em “moço de recados” da Europa, que nos olhava com compaixão ?
E, obviamente, de "olho posto" nas riquezas locais, os interesses oligárquico-financeiros da “nova ordem mundial” preparavam-se para eliminar a teimosia do intruso na geoestratégia por eles desenhada.
Teria, o Estado português, a capacidade política, financeira e operacional para manter a situação ?
Era evidente que não…
Ao "regime do Estado Novo" faltava-lhe a juventude do querer e sobrava-lhe a amorfa senectude do quietismo politico, convertendo a economia em entesouramento e anquilosando a operacionalidade numa sonolenta retórica de auto-satisfação.
A cúpula do "partido comunista", organizada como 5ª coluna do "Komintern", conhecia a fidelidade bovina da maioria dos sócios da sua organização e preparava-se para os acontecimentos que se avizinhavam.
Os opositores "liberais e socialistas", desorganizados e sonhando com o assalto à Bastilha, eram um joguete nas mãos da agitação e propaganda ("agit-prop") dos marxistas !
Os "sonhadores" do Estado Novo, esperavam uma messiânica reforma, contando histórias em que nem eles mesmo acreditavam.
O Regime português estava ideologicamente vazio, mas sobrava-lhe o misticismo !
Como prova, tivemos em Maio de 1967 (em Fátima) uma reza colectiva do governo, reforçado com a presença do papa Paulo VI, de visita a Portugal, pedindo em uníssono à Virgem e aos Santos, que viessem em socorro de Portugal ...
No ano seguinte, havia em Portugal repontos de contestação da juventude estudantil provocados pelo mimetismo ao Maio-68 francês e pela intensa propaganda democrático-comunista que era exercida a nível das Universidades.
Os jovens que no próximo decénio seriam o fiel da balança nas decisões politicas, estavam sujeitos a uma autêntica “lavagem ao cérebro” que ninguém era capaz de minimizar ; nem o moribundo governo nem as forças sociais contrárias à alternativa democrata-comunista.
Parece que o país está vivendo uma curta-metragem, na espera do grande filme que todos queriam ver mas no qual ninguém queria participar. Pacata e serena, a população aceita o devir como lhe ensinaram : com resignação cristã …
Desde as cantilenas mensageiras do José Afonso, ao desconsolo do Toni de Matos, tudo era triste, tudo era “fado”.
Em África combatia-se, um combate lento… como tudo em África, e começa a compreender-se que é uma guerra que nunca ganharemos.
Não por incapacidade de chefias ( os generais Kaúlza de Arriaga e António de Spinola são dois competentes militares ) ; não por falta de valentia da tropa ; nem sequer por dificiência de armamento. Não poderia haver vitória militar pelo mesmo motivo que não a houve com a França na Argélia, ou com a Bélgica no Congo : por decisão política das organizações que governam o Mundo !
É, uma vez mais, a interpretação pelas empresas transfronteiriças (e seus capatazes políticos) do discurso pronunciado pelo general De Gaulle em Brazaville, em 1944. De Gaule propôs colaboração entre a administração europeia e a local, conhecendo a dificuldade dos locais em administrar o território ; a interpretação do "politicamente correcto" foi de entregar os territórios a chefes locais para que as organizações transfronteiriças passem a dirigir (a negociar e a lucrar) através de sobas incompetentes e subornáveis.
Em 1969 Salazar, por doença, é substituido por Marcelo Caetano, e morre em 1970.
O “marcelismo” do Prof. Marcelo Caetano, um técnico da Administração Pública, sempre teve a imagem de um "interregno".
O Estado Novo, orfão do seu fundador, manifesta falta de tudo, principalmente confiança em si mesmo.
Instalado na monotonia, o regime esvaece… dilui-se !
Era por demais evidente que uma alteração politica se preparava nos bastidores. Contam-se as espingardas !
Constituindo o partido comunista uma organização a nível de todo o País e que a maioria dos africanos com alguma formação politica frequentavam ou tinham frequentado a escola de formação de quadros de Moscovo, denominada “universidade Lumumba", era óbvio de que a organização do sr. Cunhal iria ter a fatia de leão no previsivel "golpe".
Considerando a infiltração do partido comunista nas Forças Armadas, estes prepararam-se para utiliza-las como intimidação, sabendo que o regime do tranquilo Marcelo Caetano não teria nunca capacidade de reacção.
A intervenção militar mais não seria que uma cobertura teatral para justificar a indispensável “movimentação” política.
Falava-se, ainda "surdina", de descolonização, fazendo crer aos portugueses que estavam em África que poderiam aí continuar e beneficiar da nova situação. E a maioria deles acreditou. Foi trágico o despertar !
1 comentário:
La consigna fue dejar en "off side" a militares íntegros como Kaúlza de Arriaga (en Portugal) y Carrero Blanco (en España).........
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