sexta-feira, 4 de maio de 2007

Os que temem o Conhecimento




Hypatia

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Vitima da intolerância
e da crendice...
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O vocábulo "museu" é de origem grega ("mouseion" ) e significa "templo das musas", local onde moram as musas, e onde as pessoas se exercitavam na poesia e na música, nos estudos, biblioteca e academia.
Diógenes Laércio (Séc. III d. C.) regista o termo como "escola para o ensino da filosofia e biblioteca".

No séc. IV EP era usado, em Alexandria, como local destinado à cultura das artes e das ciências, e é na Biblioteca de Alexandría onde se reune pela primera vez, de modo sistemático, o que de conhecimento existia no mundo.

O último científico que trabalhou na Biblioteca foi uma matemática, astrónoma, física e filósofa neoplatónica, chamada Hypatia, filha de Theon, autor de "Elementos de Euclides" e último director do "Mouseion".
Hypatia nasceu em Alexandria em 370 EA, uma época em que a Igreja cristã consolidava o seu poder, intentando extirpar a influência da cultura tradicional, pelo que estava sobre o epicentro de poderosas forças sociais dirigidas por Cirilo (370/373-444), arcebispo de Alexandria, que a odiava e desprezava vendo nela um simbolo da cultura que a Igreja identificava com o "paganismo".

Apesar do grave risco pessoal que isso supunha, Hypatia continuou ensinando e trabalhando na Biblioteca.
No ano de 415 EA, quando se dirigia para o local de trabalho, foi assaltada por uma turba de cristãos fanatizados por Cirilo, que a fizeram sair da carruagem em que viajava, despiram-na e, com conchas marinhas, arrancaram-lhe os olhos, rasparam-lhe a carne até aos ossos, queimaram os seus restos e destruiram as suas obras.
Hepatia morreu assassinada com 45 anos, e durante séculos o seu nome foi esquecido… Cirilo foi, posteriormente, declarado doutor da Igreja… e santo.

Hypatia foi somente mais um episódio, mais um trágico episódio na luta da intolerante ignorância e crendice contra o conhecimento, luta essa que provocou, pouco depois, a destruição da Biblioteca de Alexandria.

Porque as ciências da Antiguidade não tiveram aplicações práticas imediatas, e a filosofia nunca fascinou a imaginação da multidão, muito mais propensa a aceitar o misticismo da sotaina que o argumento da "chlamyde" (1), quando a chusma, abençoada por Cirilo, decidiu queimar a Biblioteca, não havia ninguém capaz de a deter.

Perda incalculável para o Conhecimento.
Em certos casos conhecemos os titulos das obras desaparecidas, na maioria não sabemos nem titulos nem autores.
Porém, sabemos da existência de uma história da Babilónia ("Babyloniaca") em três volumes, escrita entre 290-278 EP, por um sacerdote babilónio-helenizado, chamado Berossos ou Berossus.
Através de relatos fragmentários de Plinio o Velho, Censorinus, Flavius Josephus e Marcus Vitruvius Pollio, temos conhecimento de que o primeiro volume se ocupava do intervalo de tempo decorrido entre a "Criação do Mundo" e o "Dilúvio", a que Berossos atribuia uma duração de 432.000 anos, ou seja, cerca de cem vezes mais que a cronologia da "Tanakh" ("Antigo Testamento").
Por outro lado, das 123 obras teatrais de Sófocles (495-406 EP) existentes na Biblioteca… somente sobreviveram sete.

Nessa mesma época, com base nessa mesma criminosa intolerância e crendice, impunha-se na Europa, através do Império de Roma, o que alguns agora denominam "tradição europeia" !
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(1) manto utilizado pelos filosofos.

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