terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Leituras...




O paraiso marxista

Na Primavera de 1933 são desembarcadas cerca de cinco mil pessoas numa ilha perdida do rio Ob, na Sibéria Ocidental. A ilha é a de Nazino e destes cinco mil deportados, dois terços acabarão por perecer de fome, frio, doença, alguns vítimas de canibalismo.
Escassa percentagem do total de deportados nesse ano em toda a União Soviética, o destino trágico dos abandonados de Nazino interessou Nicolas Werth como exemplo da lógica do regime e dos seus objectivos de política geral. Considerado hoje um dos principais investigadores franceses do período soviético da história russa, o autor de L’Ile des Cannibales demonstra a fragilidade do regime, sentida a partir da liderança, a inadequação das suas políticas, os erros derivados dos «entusiasmos» de dirigentes locais e forças de segurança, o irrealismo das opções feitas no Kremlin, a obsessão com a consolidação do poder e o controlo da realidade social.

As páginas desta obra de Werth (um dos co-autores de Le Livre Noir du Communisme) concentram-se num dos períodos decisivos de confirmação do regime soviético, que acelera nesta época – início dos anos 30 – a erradicação dos camponeses proprietários, ao mesmo tempo que principia a limpeza política e social dos grandes centros urbanos destinados a transformarem-se «em montras do socialismo», como referem os textos oficiais. Processos que vão culminar numa repressão arbitrária e cega, assente numa lógica de desumanização que transformou anónimos russos em opositores políticos – reais ou imaginados – e, de seguida, em bandos armados combatendo para sobreviver, ainda que ingloriamente.

O palco destes combates vai ser a Sibéria, o extremo oriental da URSS, para onde são deportados em massa todos aqueles que o regime define como «elementos sem classe e socialmente indesejáveis». Forçados a organizar-se em grupos de guerrilha, conseguem por vezes resistir anos a fio, saqueando unidades agrícolas e enfrentando as forças da ordem soviética na região.
(…)

Incapaz de gerar os consensos suficientes para prosseguir a mudança social, o partido comunista vai impor as suas regras através de medidas repressivas e de acções punitivas, humilhando e criminalizando, primeiro, e descivilizacionando depois, grupos sociais inteiros.

(…)
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resumo do artigo de Abel Morais
foto e publicação "Alameda Digital"
http://www.alamedadigital.com.pt
Ano I - Nº 5, Janeiro de 2007

baseado na obra de
Nicolas Werth
L’Ile des Cannibales: 1933, "Une Déportation-abandon en Sibérie"
Ed. Perrin, 2006; 205 págs


1 comentário:

Anónimo disse...

Traducción al español del Libro Negro del Comunismo: obra del historiador Don César Vidal Manzanares