sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Cantinho da História





23 F
de 1981



Após a morte do general Francisco Franco (20/11/1975) inicia-se em Espanha um periodo de destruição das principais estruturas do antigo regime, periodo que se considera completado nas eleições de 28 de Outubro de 1982, com a chegada ao poder dos socialistas do PSOE chefiados por Felipe Gonzalez, mação e advogado sindicalista.

Esse periodo, denominado "Transição" ("Transición"), é politicamente dirigido pela UCD ("Unión del Centro Democratico") um conglomerado de personalidades políticas que, após ter conseguido uma maioria relativa (34.44%) nas eleições legislativas de 15 de Junho de 1977, elege Adolfo Suárez como presidente do governo e, a 4 de Agosto, transforma-se em partido político.
Dos sete políticos que redactam a Constituição de 1978, três são membros da UCD !

Mas, se a nivel económico e politico a "Transição" vai impondo o "politicamente correcto", acenando a uns com a possibilidade de fabulosos negócios e a outros com a participação numa oligarquia prenhe de benesses, a nivel militar a situação é bem diferente.
Um dos sintomas do mal-estar dos militares revela-se em Abril de 1977, quando a UCD legaliza o PCE (Partido Comunista de Espanha), para lhe permitir participar nas eleições de Junho.
O ministro da Marinha demite e o Conselho Superior do Exército emite um comunicado no qual manifesta a sua desconformidade com a citada legalização, embora a aceite.

Porém, com o agravamento da situação económica, as dificuldades em articular uma nova organização territorial (Autonomias) e as acções terroristas da ETA, gera-se uma tensão permanente em que a probabilidade de intervenção militar é quase um dado adquirido.

Abrimos aqui um parêntesis para perspectivar a situação desde um ângulo não somente cronológico, mas também geoestratégico.
Com efeito, numa época em que se desmantelava o Ultramar português e as quadrilhas políticas entregavam o pais às multinacionais, é em 1977 que Mário Soares concede a entrada no mercado portugués à "Coca-Cola" (o "Tal Qual" em 1981 falava de… 300 milhões de dólares "na carica"), a CIA, grande interventora no golpe de palácio de 25/04/74, e já envolvida no assassinato em Madrid do almirante Carrero Blanco (cometimento que a ETA revendicou !!!), preparava a "eliminação política" dos militares espanhóis que podiam interferir no processo de "normalização" peninsular.

O "Plano de Normalização" entra em acção em 29 de Janeiro de 1981 com a intervenção televisiva do presidente Adolfo Suarez que apresenta a sua demissão.

A segunda fase, em gestão desde há vários anos, fundamenta-se numa armadilha lançada contra os militares nacionalistas.
Os colaboradores da CIA, infiltrados no seio das Forças Armadas espanholas, assim como toda uma panóplia de "idiotas utéis" (a mesma espécie colaboradora no processo portugués), convencem os nacionalistas de que um "golpe militar" teria o apoio da maioria dos militares, do povo espanhol e… do próprio rei Juan Carlos !

No dia 23 de Fevereiro de 1981, às seis da tarde, começa no Congresso dos Deputados a votação para, em substituição de Adolfo Suarez, investir Leopoldo Calvo-Sotelo como Presidente do Governo.
Um pouco antes das seis e meia, um grupo, fardado e armado, de 16 oficiais e 176 sargentos e guardas da "Guardia Civil", chefiados pelo tenente coronel Antonio Tejero Molina irrompem no hemiciclo e ordenam que todos esperem sentados a chegada iminente de um militar de elevada graduação… que na realidade nunca se apresentou, depreendendo-se, mais tarde, que Tejero havia sido enganado !

O ministro da Defesa, general Gutiérrez Mellado, presente na votação, tentou protestar mas, foi rapidamente calado e uns disparos de metralhadora para o tecto transformaram "suas senhorias" em assustados e passivos espectadores, refugiados debaixo dos assentos regulamentares…

Pouco depois, subleva-se em Valencia a III Região Militar, chefiada pelo capitão general Jaime Milans del Bosch, que coloca os carros de combate na rua e decreta o "estado de excepção" !

Às nove da noite, um comunicado do Ministério do Interior informa da constituição de um governo provisiório presidido por Francisco Laína, que asseguraria o governo do Estado em contacto directo com a Junta de Chefes do Estado Maior das Forças Armadas.

Porém, inicia-se 2ª fase do "plano", há muito estabelecido e que somente aguardava o momento oportuno !

O general Torres Rojas, prepara-se para utilizar a Divisão Blindada (División Acorazada) "Brunete", aquartelada cerca de Madrid, para ocupar pontos estratégicos da capital, entre os quais a Rádio e a Televisão (que deveria difundir um comunicado) mas, é feito prisioneiro pelo general Juste, comandante da Divisão, perfeitamente ao corrente dos planos do "golpe militar" !


Os meios de comunicação, principalmente a rádio e a televisão, intoxicam a opinião pública com os mais terriveis presságios se o "golpe militar" vencesse ! E o povo espanhol, decididamente, não queria voltar ao franquismo…

Em seguida, cerca da 1 hora da madrugado, vestido com o uniforme de Capitão General dos Exércitos, o rei Juan Carlos dá a machadada final nos propósitos dos militares nacionalistas negando-se a apoia-los !

Milans del Bosch, isolado, cancela o plano estabelecido e, cerca das 5 da manhã, é feito prisioneiro.
O tenente-coronel Tejero abandona o Congresso dos Deputados ao meio-dia de 24 de Fevereiro e é feito prisioneiro.

O caminho estava livre para uma massiva onda de demissões e exonerações de militares nacionalistas.
O golpe da CIA é perfeito… como em Portugal !

Agora, 26 anos depois, façamos um pouco a História deste "maquiavélico" plano da Nova Ordem para, depois de Portugal, juntar também a Espanha ao rebanho do "politicamente correcto" :

1.
Ronald E. Estes, chefe da delegação da CIA em Espanha, mantinha uma "relação fluida" com o coronel José Luis Cortina oficial do CESID (Centro Superior de Información para la Defensa), chefe da AOME (Agrupación de Operaciones y Medios Especiales) que coordenou todo o processo de imfiltração nos meios nacionalistas militares.
O agente norteamericano possuia uma vasta experiência em assuntos europeus e tinha estado em funções em locais de conflito como Chipre, Praga, Beirute e Atenas. Na capital grega tinha permanecido nos dois anos prévios ao "golpe de Estado" dos generais, em 1976 e foi um auxiliar directo do senhor Carlucci na embaixada de Lisboa.
O coronel Cortina e o agente Ronald E. Estes efectuaram, no Hotel Eurobuilding, em Madrid, várias reuniões de intercambio de informações nas semanas que precederam o "golpe" dos militares espanhóis".

2.
As bases norte-americanas de Torrejón, Rota, Morón e Zaragoza foram colocadas em estado de alerta na quinta-feira 19 de Fevereiro.
Anteriormente, os barcos da VI Esquadra, no Mediterráneo, foram estratégicamente colocados ao longo da costa espanhola.
Quando, na tarde de 23 de Fevereiro, o general Milans del Bosche fez sair os carros blindados para as ruas de Valencia, aviões especializados na guerra electrónica do 86º Esquadrão de Comunicações da US Air Force estacionados na base de Ramstein (Alemanha), sobrevoaram o centro e o sul da Peninsula interceptando as transmissões via rádio, realizadas entre as diferentes unidades das Forças Armadas espanholas e os seus centros de comando (tal como no 25 de Abril em Portugal).

Se fossem necessárias mais provas sobre o controlo americano do "golpe", bastaria recorrer ao relato do coronel do CESID, Juan Alberto Perote, que trabalhou na "Área 3", dedicada à "contrainteligencia para los países del Este", desde um edificio sito na rua Menéndez Pelayo em Madrid :
"Mi mayor descubrimiento mientras trabajé en Contrainteligencia - relata Perote - fue saber que aunque oficialmente dependíamos del CESID, nuestro patrón era la CIA."

Assim se manipulou o 23 F em Espanha, e de forma idêntica o 25 A em Portugal !

21 comentários:

Anónimo disse...

Gen. Alexander Haig: Es un asunto interno.

Anónimo disse...

El padre de Cortina, falleció en extraño incendio en Pozuelo de Alarcón, Madrid.

António Lugano disse...

Si tienes informaciones "curiosas" y/o "confidenciales", puedes enviarlas para la dirección :
mneme@dublin.com
Te lo agradezco.

Anónimo disse...

Amigo Antonio: tus deseos son órdenes para mí. Un abrazo.

Anónimo disse...

Amigo Antonio, "enciclopedia viviente" sobre todos estos temas: el sabio Don Ismael Medina, Firmas invitadas de "Vistazoalaprensa.com"

Anónimo disse...

Artículo esclarecedor de don Ismael Medina: Del 20-D al 11-M, una historia de falacias y encubrimientos

Anónimo disse...

También esclarecedoras las observaciones "in situ" de Antonio Parra (Firmas invitadas en Vistazoalaprensa.com) sobre el 23-F.....

Anónimo disse...

Ministro de la Marina que dimitió: El Almirante Pita da Veiga, gallego de pro

Anónimo disse...

Adolfo Suárez González, abulense del Sur, de padre coruñés, fue Secretario General del Movimiento Nacional (Partido Unico del Franquismo)

Anónimo disse...

La blogsfera lusa despejando "cortinas de humo" históricas.........

Anónimo disse...

Poder que se esconde tras las bambalinas ansioso de consumar una venganza contra españa

Anónimo disse...

Discurso de Laureano López Rodó, el 19 de diciembre de 1973, en el palacete de la moncloa, residencia del secretario de estado usa : españa acepta el nuevo orden mundial propuesto......

Anónimo disse...

libro de jesús palacios, programa "dando caña", intereconomía tv....

Anónimo disse...

terence todman

Anónimo disse...

"jose luis cortina prieto" GODSA

Anónimo disse...

"antonio cortina prieto" godsa

Anónimo disse...

alfredo grimaldos la cia en españa

Anónimo disse...

francisco laina, gobernador civil de zaragoza en 1979

Anónimo disse...

gómez de salazar nos ofreció la absolución de todos los tenientes que entraron en el congreso el 23- f si, a cambio, renunciábamos a interrogar al diputado socialista enrique múgica herzog

Anónimo disse...

gómez de salazar nos ofreció la absolución de todos los tenientes que entraron en el congreso el 23- f si, a cambio, renunciábamos a interrogar al diputado socialista enrique múgica herzog

Anónimo disse...

como este tío siga así, saco a relucir lo de carrero......