domingo, 11 de fevereiro de 2007

História e... histórias


Da História
às versões dos acontecimentos

A curiosidade pode não ser interpretada como "uma concupiscência", tal como referia Blaise Pascal, mas sim como uma sensibilidade orientada a compreender. Pode ser suposta como um vicio moral, como referiram Alighieri Dante e Francesco Petrarca, mas pode ser considerada como um impulso decisivo que abre a via do conhecimento racional, como defendiam Galileo Galilei, Giordano Bruno e Francis Bacon.

Tratemos pois a curiosidade como uma capacidade de formular dúvidas, um meio para buscar a possivel tranquilidade, a necessária "eudaimonia" que resulta da supressão de uma suspensão de parecer (dúvida).

"A curiosidade, filha da ignorância, é mãe da ciência",
Giambattista Vico, in "Scienza nuova" (1725).

Vico foi um filósofo precursor da Filosofia da História, uma aplicação da Filosofia cuja finalidade é reflectir, ponderar, sobre o sentido e a finalidade do devir histórico.
No âmbito desta perspectiva, uns negam toda a ideia de finalidade afirmando que a História é fruto do acaso e do imprevisto, enquanto outros afirmam o contrário insistindo na sua característica teleológica.
Uma terceira via, considera um absurdo incluir a História num "absoluto imprevisto", assim como o de a considerar uma "função determinista".

Cremos dever considerar que, tal como na Biologia, a História coloca-nos perante um processo de "acaso e necessidade" mas, diferentemente da Biologia, o "acaso" pode sofrer, circunstancialmente, influencias "determinantes" introduzidas por actividade humana consciente.

Considerando que o propósito da ciência é de subordinar os factos a principios ou de os deduzir destes, Arthur Schopenhauer negava não só a cientificidade da História, mas igualmente o principio de um "devir" (determinante) histórico.

"A divisa da História deveria ser "Eadem, sed aliter", ou seja, "as mesmas coisas, mas de outra maneira".
Schopenhauer in "O mundo como vontade e como representação", suplemento ao livro III, capitulo XXXVIII.

O género histórico pretende definir-se pela sua finalidade, o relato de acontecimentos passados. Mas… há relatos e relatos.

Juntamente com a História existe a lenda, como narração criadora de heróis a partir do homem histórico, o conto, como narração breve e ficticia, e o mito, evocador de mistérios originais e de poderes da natureza, descritos numa linguagem imaginada e simbólica.
O conto, a lenda e o mito têm uma função de ensino. A História também !
No entanto, o que faz a especificidade da História é que ela pretende cingir-se aos factos, citar os acontecimentos humanos.

Heródoto de Halicarnasso (484-425 EP), um dos primeiros historiadores gregos, justificava a sua acção "para impedir que os actos cometidos pelos homens fossem apagados pelo tempo".

O vocábulo grego "istoria" significava inquérito, não relato ou narração, e é somente a partir da Idade Média, periodo de exaltação e fervor em transmitir "verdades", que se transformou em "interpretação" tendenciosa, ideológica e catequética.
A vocação primária da História em construir uma memória inalterável e de garantir una perenidade ao passado, foi sendo escolasticamente transmutada em funções de catecismo, orientando-se à (de)formação das mentes, e predestinando-se como função manipuladora.

A História ressente hoje dificuldades em não ser mais que uma "interpretação" de acontecimentos conhecidos, e de uma "representação ideológica" de encadeamentos mais ou menos forjados para constituir um conjunto minimamente coerente.

Analizemos, e.g., a batalha de Waterloo (18 de Junho de 1815). Tudo é confusão histórica neste acontecimento !
Denomina-se "batalha de Waterloo" por imposição dos vencedores, ingleses, pois essa batalha não se realizou no sitio de Waterloo, mas sim no sopé do "Mont-Saint-Jean", e por esse nome é conhecida pelos franceses ; os alemães designam-na como batalha da "Belle-Alliance" (nome da propriedade rural que incluia o que foi o campo de luta).
Três denominações diferentes para uma mesma batalha mas, como é habitual na História "oficial", é a versão dos vencedores que se impõe.
Há uns anos atrás, uma emissão televisiva da BBC, cuja pretenção era explicar a "batalha de Waterloo", elogiava a eficiência dos ingleses e esquecia de citar as restantes tropas da Coligação, nem mesmo os prussianos a quem, segundo fontes militares, devem os ingleses a consolidação da vitória.
Mas, a confusão não fica por aqui, e a perplexidade vai em aumento quando constatamos que a versão de "magnífica vitória da capacidade militar", cantada pelos ingleses vencedores, é confrontada com testemunhos que não hesitam em acusar o marechal francês "Marquis de Grouchy" de indecente traição.

Na prisão-degredo da ilha de Santa Helena, Napoleão escreveu ;
"O marechal Grouchy, com 34 000 homens e 108 peças de artilharia, conseguiu o segredo de, na jornada do 18 de Junho, não ser visto no campo de batalha do "Mont-Saint-Jean" …
Em Julho de 1815 Grouchy refugia-se nos Estados Unidos, onde residirá nos cinco anos seguintes.

Waterloo não é caso único e, da revolução francesa de 1789 à "invasão" árabe do século VIII, da revolução bolchevique de 1918 à guerra de 1939/1945, das causas religiosas e políticas que dão origem a Portugal às revoltas de 1910 e 1974, o que nos contam são versões políticas que não correspondem à verdade.

"A História é escrita pelos vencedores"
Robert Brasillach (1909-1945) - escritor e jornalista francês

3 comentários:

Anónimo disse...

El contubernio de Gibraltar, entre don Julián y el obispo traidor don Oppas, inicio de la invasión sarracena de la Península Ibérica.

Anónimo disse...

Los hijos de la Pérfida......¿ Si pagan a los traidores ?

Anónimo disse...

grouchy, don oppas