sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Imbolc



Imbolc é, cronológicamente, a 2ª grande festa celta, celebrada no mês de "Anagantios", segundo o calendário de Coligny (1) (principios de Fevereiro do actual calendário europeu), depois do Shamain (inicio do ano celta, nos principios do mês de Novembro) e antes da Beltain (principios de Maio) e da Lugnasad (principios de Agosto).

Festa dedicada à purificação, celebra o equinócio da Primavera, a "claridade", como sequência ao fim do "periodo obscuro" (Inverno).
Na Antiguidade, os solsticios e os equinócios não determinavam o principio das estações, como actualmente, mas o meio dessas estações, pelo que a Primavera principiava no inicio do que agora se designa como mês de Fevereiro.
Tomando como referência o dia 21, a Primavera iniciava-se a principios de Fevereiro e terminava a principios de Maio. Arbitrariamente, fixou-se o inicio da Primavera céltica a 1 de Fevereiro.

Imbolc significa literalmente "no leite" e determina (tradicionalmente) o periodo de lactação do gado (e.g., o nascimento dos cordeiros), significando assim o fim de um periodo obscuro e infértil (o Inverno). Despejava-se leite sobre a terra para encorajar a fertilidade desta !

Relacionava-se este periodo com o fogo como poder de fertilidade, meditação e conhecimento, e denominava-se o mesmo "Brigidh", ou "Bride" ou "Brigit" ("Lá Fhéile Bríde", em gaélico).
Certas representações celtas mostram"Brigidh" tocando a terra congelada, despertando-a para a vida e aumentando a luz do dia.

A designação de Brigit (ou Brigantia) deriva do proto-céltico "brigantija" ou "brigantis", que possui o sentido de "muito alto" ou "muito elevado". O vocábulo original é "Briga" (sitio alto, fortaleza) que, utilizado como prefixo origina numerosos topónimos tanto na Gaulia como na peninsula Ibérica.

O cristianismo, na sua constante actuação contra a cultura europeia (considerada demoniaca), atribui a " Brigidh" o nome de Brigida e, interpretando a noção de "fenómeno natural" como "coisa divina", atribuiu-lhe o titulo de santa, inventando (séc. V) toda uma biografia em que não falta um pai, rei "pagão" (2), e uma mãe, escrava cristã baptizada pelo evangelizador Patrick, posteriormente "santo" da Igreja.

A tradição celta, associando o priodo de Imbolc ao retorno do Sol, ao "fogo redemptor", acendiam inúmeros pequenos fogos para que a absorção da luz e do calor permitissem a purificação e a prosperidade.
Após "a noite mais longa" do ano (Yule), solsticio de Inverno (21 de Dezembro), o Sol renasce (25 de Dezembro (3)) e 40 dias depois festeja-se o inicio da Primavera (Imbolc).

Também aí entrou a Igreja, com a festa da Candelaria, a 2 de Fevereiro, ou seja, 40 dias depois do Natal de Cristo.
Fazem-se procissões rituais com velas e festaja-se a purificação de Maria e a apresentação de Cristo no templo de Jerusalém.
O evangelho de Lucas (II, 22) diz :
" … e quando foram cumpridos os dias para a purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor".

Vejamos o que diz a Lei de Moisés sobre o tema em questão.
Não desmerecendo dos seus anfitriões assirios e babilónicos (durante o "Cativeiro da Babilónia"), que eram excelentes conhecedores de astronomia, os profetas do judaísmo, autores e influenciadores de grande parte da Tanakh (Antigo Testamento cristão), redigiram uma normativa, designada Lei de Moisés, que seguia os mesmos periodos astronómicos indiciados pelas mais diversas culturas, da babilónica à egipcia e da celta à grega.
Assim, segundo a Lei de Moisés (Levítico XII), uma mãe que dá à luz um rapaz deve ser considerada impura durante 7 dias e deve aguardar a purificação do sangue durante 33 dias. Se o recém nascido for rapariga, a mãe será impura durante 14 dias e apurificação deverá aguardar 66 dias !
Portanto, no caso do cristianismo, 7 + 33 = 40 dias... e as datas batem certo com o calendário tradicional, também utilizado pelos celtas !

A versão romana do Imbolc era a Lupercália, a 15 de Fevereiro, uns alegres festejos pastorais em honra de Lupercus, nome latino da divindade grega Pan, protector dos pastores e da floresta e anunciador de fertilidade.

O papa Gelásio Iº (de origem norte-africana) suprime a Lupercália e, em 472 decide cristianizar a festa como apresentação de Cristo ao Templo, uma tradição inequívocamente judaica, que é confirmada nos finais do século VIIº pelo papa Sergio I (originário da Siria) que, para comemorar a visita de Maria e do seu filho ao Templo (segundo o mito cristão), organiza uma procissão, desde o fórum até à basílica de Santa-Maria-Maior, com os seguidores portando uma vela na mão.
E daí vem a designação de Candelária : "festa candelarum" ou festa das "candelas" (velas, melhor dizendo "cirios").

Independentemente desta recuperação cristão do festejo céltico, o "Imbolc" continua a simbolizar para o "nacionalismo tradicionalista europeu" a anunciação da Primavera, o retorno da luz e a gestação das energias naturais.
É um periodo de purificação, de meditação num novo período e na elaboração de acções futuras.
Recolocar ordem, organizar a vida desprendendo-se de erros passados. Imbolc é esperança…
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(1) O calendário de Coligny, comuna francesa do departamento de Ain onde foi encontrado em 1897, é um documento extraordinário para o conhecimento da cultura celta, por um lado porque nos informa da concepção que os celtas tinham do tempo cronológico e a qualidade dos seus conhecimentos em astronomia, e por outro lado porque nos fornece uma significativa amostra da lingua celta.

(2) "Pagão" era como designavam os cristãos aqueles que não seguiam os seus dogmas.
A origem do vocábulo é o latim "paganu", de "pagus", que designava aqueles que viviam em ambiente rural, mais difícilmente influenciáveis que os "urbanos" aos costumes foráneos.

(3) Três dias passados sobre o solstício de inverno, quando o Sol retoma o movimento aparente em direcção ao Norte, é uma data (25 de Dezembro) que comemora o simbólico nascimento do astro, e das divindades a ele associadas : Mithra, Osiris, Krishna, Cristo, Attis etc…

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