domingo, 10 de junho de 2007

Do Adamastor à realidade...

… é preciso morrer e nascer de novo !

No dia de hoje, recordo o que dizia Antero de Quental, no "Nirvana":

À bela luz da vida, ampla, infinita,
Só vê com tédio, em tudo quanto fita,
A ilusão e o vazio universais.

Mas, dizem alguns, recordar é viver…
E, quando a vida das gentes é triste, recordam sonhos, creem em lendas e imaginam mitos.
Uma projecção de "saudade" num futuro redentor… que há-de chegar… numa madrugada nevoenta…
D. Sebastião está aí ao voltar da esquina. Já se ouve o tropel cavalar…
Ou serão os corcéis do Apocalipse ?

Compreende-se… enfrentar a realidade que nos impõem é comer queijo ranço.
Ao menos a festa distrai… e depois do Luiz, virá o António, o João e o Pedro. Folguemos !

"Panem et circenses", dizia Juvenal afirmando ser isso o único que desperta interesse no povo, palavras de um satírico e, oh crime, um anti-democrata.
"O nobre povo, belo e inteligente", talvez fosse a expressão utilizada por Kleon de Atenas, um profissional da demagogia, um verdadeiro democrata…
Se apurásemos o ouvido talvez chegasse até nós o murmúrio sarcástico do velho Diógenes, enquanto urinava contra uma coluna : "… eu vos aspirjo políticos…".

E lá vão os "nacionalistas", os da "pátria una", e não só os do "pendão, do trono e do altar", mas também os do "Imperium", e os ante-pós-nacionalistas, e os da Europa da Joana D'Arc, do Cid e do Garibaldi, todos trémulos de emoção perante uma bandeira nascida da "Carbonária" e um hino composto contra o "Ultimatum" inglês, recuperado pelos maçãos do 5 de Outubro.
Os "nacionalistas", os que crêem nas "nações", assistem à liturgia perguntando-se qual seria a prosopopeia que Erasmus aplicaria à loucura perante semelhante cenário, perante este fruto de uma racionalidade que a razão desconhece !

Mas o esoterismo não fica por aí e rende homenagem a um poeta que não se sabe muito bem onde nasceu, nem onde fez escola, nem onde morreu. Foi aventureiro, militar, amante compulsivo e sonetista nas horas vagas.
Nunca ninguém soube que Universidade e bibliotecas frequentou para adquirir um conhecimento tão profundo das mitologias grega e romana…
O que, convenhamos, não é muito normal num católico assumido, mas a culpa é de Publius Vergilius Maro que escreveu a Eneida ("Aeneis") sem referir as "chagas de Cristo" e a "Santíssima Trindade".

É que a semelhança é grande ! Vergilius baseou-se na Iliada e na Odisseia… mas disse-o !.

Segundo rezam as crónicas, terá sido no Oriente, no exilio de Macau, que o vate teria escrito, de memória, tão extenso e magnifico trabalho intitulado os Lusiadas… Talvez não tanto de memória se conhecermos o "Roteiro da India" de Álvaro Velho…
Quanto ao título, como se surpreenderia Caius Plinius Secundus (Plínio, o Velho), se soubesse o significado que iriam atribuir ao seu "lusum" ("jogo") na expressão "lusum enim Liberi patris" (in "Naturalis Historia").

Outro mistério concerna a composição da tinta utilizada no manuscrito que o poeta-aventureiro salvou de um naufrágio, segurando-o com os dentes contra as arremetidas do mar, enquanto nadava em direcção à costa. Apesar de o manuscrito ficar encharcado em água salgada… a escrita manteve-se !
Alguns atribuem o facto a uma intervenção divina…
A mesma divindade que, como a Constantino na "ponte Milvius", surgiu perante Alfonso Anriques em Ourique, e a Nuno Alvares em Aljubarrota…

Realidade ou ficção ?

Mas, se os gregos deduziram a existência de um Homero desde uma obra colectiva denominada "Homeriades", e diziam que era cego (porque a cegueira era simbolo de visão interior), porque não podemos nós também deduzir um vate ? E numa versão caseira em que só é cego a metade… somos mais humildes ! E como um aventureiro não pode ser cego de nascença supõe-se que a causa foi uma flecha lançada "pela fúria de Marte", ou por um tiro numa batalha de Ceuta.
Porém… que importa a realidade se o irreal nos satisfaz ?

Somos como o restolho…

Geme o restolho, triste e solitário
a embalar a noite escura e fria
e a perder-se no olhar da ventania
que canta ao tom do velho campanário

Geme o restolho, preso de saudade
esquecido, enlouquecido, dominado
escondido entre as sombras do montado
sem forças e sem côr e sem vontade
(…)
Geme o restolho, a transpirar de chuva
nos campos que a ceifeira mutilou
dormindo em velhos sonhos que sonhou
na alma a mágoa enorme, intensa, aguda

Mas é preciso morrer e nascer de novo.....

Restolho - Mafalda Veiga in "Pássaros do Sul", 1987

Escrevia o esotérico Fernando Pessoa que "Conquistamos já o Mar: resta que conquistemos o Céu, ficando a Terra para os Outros…".
Residirá aí a verdade ?

Para quê a Terra se somos uma população de etéreos ?
Que o "Imperium" (o 5º ou o 6º, pouco importa) seja nas nuvens ! Entre cumulus-nimbus e estrato-cumulus.
Seguramente que o encontro com D. Sebastião é um "encontro do 3º grau", na alta atmosfera.

E a capital do "Imperium Europeo", depois de Bruxelas, não será Tel Aviv como alguns vaticinam, mas sim no Restelo...

Que vitória para o "velho" lá do sitio !
Há mesmo quem afirme que esta é a autêntica 3ª mensagem de Fátima !

"Sem a loucura que é o homem
Mais que besta sadia,
Cadáver addiado que procria ?"

F. Pessoa 20-2-1933 in "Regresso ao Sebastianismo".

8 comentários:

Anónimo disse...

Hombre, admirado Señor Lugano, únicamente por no coincidir con el apátrida globalista Juan Luis Cebrián, tengo que sentir admiración hacia Don Rodrigo Díaz de Vivar, el Cid Campeador.......¡No me lo compare con el masón Garibaldi......!

Anónimo disse...

El Cid, héroe burgalés como San Julián de Cuenca y San Lesmes. Y más recientemente, Don José Antonio Ortega Lara

Nuno Adão disse...

Muito bem...

Anónimo disse...

E a tença dada pelo Rei - Penso que há provas nos Arquivos.

O que em muitos outros são ficcções, felizmente em nós são Figuras Verdadeiras:

Magalhães; Gama; Albuquerque Camões; António Vieira; Fernando Pessoa - é incrivel que tais figuras Shakespearianas sejam realmente Reais e nos façam ser o que somos, Graças a DEUS.

Anónimo disse...

Figuras de Epopeia e de Ópera - acrescentaria aos que referi os Gallaaz D. Sebastião e Santo Condestável.

Como vê, vejo as coisas de modo diferente. Penso que o meu caro tem uma visão demasiado fabulógica sobre algo que é muito real, a meu ver.

Felizmente na construção da nossa Pátria os Mitos foram e são Verdade.

António Lugano disse...

ao Templário Esotérico
Sem dúvida que os mitos existem... e são reais enquanto acreditarmos neles.
Porém, existe uma outra realidade, a histórica e, acreditemos ou não nela, os mitos, como a tragédia grega, somente nela actuam como catarse ("katharsis").
Aguardar por D. Sebastião pode ser sublime... mas não retira poder à oligarquia, encantada com o saudosismo poético de uma população narcotizada.

Anónimo disse...

"população narcotizada."
A populaça está narcotizada mas é com o futebol, novelas e euromilhões.

"katharsis"?
Cada um tem e precisa duma.
Qual é a sua senhor Lugano?

António Lugano disse...

ao anónimo
1.
Quando menciona,
"… o futebol, novelas e euromilhões"
creio que se refere ao aspecto mais genérico de "espectáculo alienante", "lixo televisivo" e "jogos de azar".
Qualquer destas manifestações (o "circenses" de Juvenal) não é causa, mas sim consequência da manipulação orquestrada pelo "sistema politico".

2.
A "catarse" (do gr. "katharsis"), anotada por Platão e Aristóteles, entre outros pensadores, é procurada pelos trágicos gregos (Ésquilo, Sófocles, Eurípedes) como purificação perante o medo e o infortúnio.
A "catarse" na política significa uma reacção de dignidade intelectual, de veracidade histórica e exigência ética.
Uma "catarse" não é algo que se tenha, mas uma consciencialização que se vive perante determinado acontecimento.
A "catarse" manifesta-se se estivermos mentalmente preparados para a assumir.
Esse era o desafío da "tragédia" grega !
E nem todos os que a ela assistiam ressentiam o processo catártico…