sexta-feira, 5 de outubro de 2007

História !




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esquecer
é desconhecer…



Quanto às "experiências revolucionárias" portuguesas permitam-me que lhes conte uma curiosa história sobre a chamada “revolução de 5 de Outubro”.
É um facto que diz muito quanto à definição de “acto revolucionário” segundo a interpretação caseira.

O tempo pré-republicano foi política e socialmente instável, principalmente pela acção de um grupo (que hoje denominariamos terrorista) e que constituia o "braço armado" do Partido Republicano (dominado pela "Maçonaria").
Esse grupo nomeado "Carbonária" (de origem maçónica italiana), era uma associação paralela à Maçonaria (embora nem todos os maçãos fossem carbonários), uma sociedade secreta que impunha aos seus filiados "possuirem ocultamente uma arma com os competentes cartuchos".
Tinha uma hierarquia própria, em certos aspectos semelhante à Maçonaria, tratando os filiados por "primos" e estava organizada em centros de reunião de associados que, por ordem crescente de importância, se denominavam "choças", "barracas" e "vendas".

No sábado 1 de Fevereiro de 1908, por instigação do citado Partido Republicano, a Carbonária, através de Alfredo Costa e Manuel Buiça, comete regicidio nas pessoas do rei D. Carlos I e de seu filho D. Luis Filipe, sucessor ao trono.

"Le Roi est mort, vive le Roi", e a 6 de Maio de 1908 é nomeado rei D. Manuel II, segundo filho do defunto D. Carlos, personagem bastante culto mas que se interessava tanto pelos assuntos de Estado como um labrego pela teoria da relatividade.

A situação politico-social foi-se degradando e atingiu grande emotividade quando o republicano Miguel Bombarda é assassinado na manhã de 3 de Outubro de 1910.
Os republicanos reagiram emocionalmente a esse crime, atribuindo-o aos monárquicos, quando na realidade o dr. Bombarda, médico de doenças mentais, foi morto por um doente do lisboeta hospital psiquiátrico de Rilhafoles.

Nesse mesmo dia, em Lisboa, o vice-almirante Cândido dos Reis acompanhado por elementos sublevados dos regimentos de Artilharia 1 e Infantaria 16, e de vários civis, dirigiu-se para o alto da Avenida da Liberdade para aí instalar o comando de uma revolta contra a Monarquia.
Entretanto, não se confirmavam as sublevações anunciadas nas hostes monárquicas comandadas pelo capitão Henrique de Paiva Couceiro, que mantinha o controlo da praça do Rossio.
A desproporção de forças era enorme : a Monarquia contava com cerca de 8.000 homens e os revoltosos com 400 !

Apesar do moral das forças monárquicas não ser elevado, a balança parecia pender para o lado da Monarquia, pois o esperado apoio popular aos sublevados brilhava pela sua ausência…

Desesperado pela evolução dos acontecimentos e verificando que os barcos de guerra ancorados no Tejo (Adamastor e S. Rafael) não atacavam as posições monárquicas, o vice-almirante Cândido dos Reis decide suicidar-se.

Do drama passamos ao caricato, quando o encarregado de negócios da Alemanha em Lisboa, resolve ir, de bandeira branca em punho, acompanhado de outros dignatários, solicitar, não se sabe muito bem a quem, que os seus correligionários beneficiem de protecção oficial para abandonar a cidade.
A população, escondida atrás das janelas entre-abertas, ao ver aquele cortejo de cavalheiros bem trajados e nobres bigodeiras, interpretou o acontecimento como sendo a rendição da monarquia.

Palavra passa palavra e, em pouco tempo, milhares de pessoas davam vivas à República e morras ao Rei.

Perante semelhante e desconcertante reboliço, os barcos de guerra começaram, então, a bombardear as posições das forças monárquicas que se rendiam umas após as outras.

A confusão era tal que, em Loures, Almada, Cascais, Moita e Barreiro, foi proclamada a República, antes que oficialmente o fosse na capital.
Como sempre, ou quase, o resto do País foi aderindo à "nova moda politica".
Em Lisboa, alguns tocam a música que querem… e no "Portugal profundo", outros dançam o que podem !

E assim, "longe do País real", foi a Monarquia desalojada de Portugal, onde residiu oitocentos anos, incluindo alguns interregnos, ficando os citados acontecimentos registados na História como… "Revolução do 5 de Outubro" !

Um outro pormenor "revolucionário" refere-se à "bandeira nacional" !
A partir dos acontecimentos lisboetas, em várias Câmaras do País foram içadas bandeiras onde imperava a cor vermelha.
Os "republicanos" Guerra Junqueiro e Sampaio Bruno defendiam a manutenção da cor branca na bandeira e uma "comissão" nomeada para a escolha das cores afirmou : "Da bandeira da República não pode pois desaparecer o Branco".
Com efeito, a cor branca sempre tinha sido a base de todas as bandeiras portuguesas desde a 1ª dinastia, e inclusivé desde os anteriores tempos do Condado de Portucale (ver bandeira adjunta).

A 1 de Dezembro de 1910 realiza-se a "festa da bandeira"… com as cores verde e vermelho.
Por decreto de 19 de Julho de 1911, a "bandeira nacional" passa a ser em definitivo "bipartida verticalmente em duas cores fundamentais, verde escuro e vermelho, ficando o verde escuro do lado da tralha.
Era a vitória da ala jacobina do republicanismo, pelo que se impõe termos presente que a bandeira verde-vermelha, antes de "bandeira nacional", é essencialmente "bandeira do republicanismo maçónico de 1910".

Um detalhe mais : a bandeira da Carbonária é verde e vermelha !

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Como sempre um texto inexcedível. Outra coisa não seria de esperar do excelente Administrador deste espaço.

Maria