sábado, 1 de dezembro de 2007

1º de Dezembro

restaurando a dependência

Antes de entrar no contexto enunciado permitam-me manifestar o meu apoio aos que defenestraram Miguel de Vasconcelos, apesar de ser um acto simbólico contra um "bode expiatório" !
Na realidade, a Restauração da Independência foi uma falácia, pois mais não foi que a troca da formal dependência ao rei de Espanha, pela virtual (mas efectiva) dependência ao rei britânico.
Não obstante, sempre é melhor fazer algo que manter-se de cócoras… como na actualidade.
Mas, entremos no "vivo do sujeito" !

Após a morte de D. Sebastião, em 1578, na trágica aventura marroquina de "al-Kasr al-Kebir" (Alcacer Quibir), e não tendo este descendência, o trono foi ocupado (regência) pelo jesuita cardeal D. Henrique, tio-avô do infortunado rei.
Com uma idade já avançada para a época (66 anos), piamente religioso e evidentemente dogmático, o cardeal não soube, ou não quis, solucionar a crise sucessória que se adivinhava com a sua morte.
Recusou reconhecer a sucessão de D. António, neto de D. Manuel I, mas filho ilegitimo de D. Luis (filho de D. Manuel I), dando azo a que a nobreza de então (por favor, não confundam nobreza com aristocracia), mais interessada nas prebendas que poderia auferir de Filipe II de Espanha, filho de Isabel de Portugal (fiha de D. Manuel I), e portanto também candidato ao trono.
A recusa a D. António, por ser filho ilegitimo, é uma verdadeira falácia alimentada pelos que preferiam a Corte de Madrid, pois o facto de ser filho ilegitimo não impediu que D. João I fosse proclamado rei em 1385.

Imediatamente após a morte do cardeal D. Henrique, D. António, como legitimo sucessor, é proclamado rei (24 de Julho de 1580) com a denominação de D. António I.
Porém, é um reinado de curta duração, pois apenas vinte dias depois é derrotado em Alcântara por um exército enviado por Filipe II, e chefiado pelo duque de Alba.
Filipe II de Espanha é aclamado em 1580, e reconhecido como rei pelas Cortes de Tomar de 1581, como D. Filipe I de Portugal.

O contentamento que o acontecimento suscitou em muitos corredores palacianos e episcopais não foi seguido pelo povo, tal como se pode deduzir da seguinte quadra popular da época :
"
Que o cardeal-rei dom Henrique
Fique no Inferno muitos anos
Por ter deixado em testamento
Portugal, aos Castelhanos.
"
Mas, os caminhos do poder e dos negócios, além de entre-cruzados, são menos insondáveis do que alguns pretendem e bastante mais acordes com as aparências que sugerem, e como o imenso poder da Espanha de então não interessava nem a ingleses nem a franceses, acordaram estes um golpe de tenaz contra Madrid.
Em Paris, Richelieu apoiaria a secessão da Catalunha, e em Londres, Charles I apoiaria a de Portugal !

O então rei de Espanha, Filipe IV, teve que decidir entre acorrer em força a Barcelona ou a Lisboa… e decidiu Barcelona !

Em Lisboa, um grupo de nobres, apoiado pelos ingleses, actuou contundentemente (defenestrando-o) contra Miguel de Vasconcelos, valido da italiana Margherita de Sabóia, duquesa de Mântua e 17º vice-rei (rainha) de Portugal, como já três séculos antes sucedera com João Fernandes de Andeiro, Conde de Andeiro (apunhalado), valido e amante da rainha Dª. Leonor Teles de Meneses.

D. João II, oitavo duque de Bragança (um alentejano de Vila Viçosa), filho de Teodósio II, sétimo Duque de Bragança (também de Vila Viçosa) e de Ana de Velasco y Girón, dama espanhola nascida igualmente em Vila Viçosa, filha de Juan Fernández de Velasco, 5º duque de Frias (Haro - Rioja), foi declarado rei de Portugal, com a denominação de D. João IV.
Reza a pequena história que foi sua esposa, D. Luísa de Gusmão, natural de Sanlucar de Barrameda - Cadiz, filha do Duque de Medina-Sidónia, quem o impulsou para a chefia da revolta dizendo-lhe que "Mais vale ser rainha por um dia que duquesa toda a vida!".

Assim que, afastada a dependência directa, ficou a dependência indirecta à nobreza espanhola !

O apoio da Inglaterra à "emancipação portuguesa" significou o casamento da infanta Dª. Catarina de Bragança (nascida em Vila Viçosa), filha de D. João IV, com o rei Charles II (Charles Stuart) da Inglaterra, Escócia e Irlanda, acompanhada de um dote de 2 milhões de cruzados e a entrega de Tânger, em África, e Bombaim, na Índia.
Foi Dª Catarina, uma aficionada ao chá, quem divulgou essa infusão, de origem chinesa ("Camellia sinensis"), na corte inglesa e, por mimetismo, na nobreza local.

Mas, a "amizade inglesa" não ficou por aí, e logo após a Restauração, Portugal foi obrigado a fazer concessões comerciais em troca de apoio contra a Espanha e a Holanda.
Os tratados de 1641, 1654 e 1661, com a Inglaterra, foram produtos dessa concessão que, afinal, acabou resultando na crescente dependência de Portugal pois, através deles, foi aberto à burguesia inglesa o mercado colonial português, na condição de nação mais favorecida.

O mais importante tratado foi o de Methuen, assinado em 1703, e que apenas possui três artigos, o que o converte mais em "nota de serviço" que em "tratado" :
1º art. - em que El Rei de Portugal declava "admitir para sempre de aqui em diante, no Reino de Portugal, os panos de lã e mais fábricas de lanifício de Inglaterra…".
2º art. - em que a Real Majestade Britânica declarava "admitir na Grã Bretanha os vinhos do produto de Portugal, de sorte que em tempo algum (…) não se poderá exigir direitos de Alfândega nestes vinhos…".
3º art. - em que os plenipotenciários (John Methuen, pela Grã-Bretanha, e D. Manuel Teles da Silva, marquês de Alegrete, por Portugal) prometem que seus Senhores, acima mencionados, ratificarão o Tratado.

O Tratado de Methuen estipulou, em síntese, a compra do vinho português em troca de tecidos ingleses.
Esse acordo bastante simples foi, entretanto, altamente nocivo para Portugal porque, em primeiro lugar, importava mais tecido do que se exportava vinho, tanto em termos de quantidade como em valor; em segundo, as manufaturas portuguesas foram gradualmente eliminadas pela concorrência inglesa.
Por último, dado o desequilíbrio do comércio com a Inglaterra, a diferença foi paga pelo ouro brasileiro, abrindo um importante canal para a transferência da riqueza produzida no Brasil para a Inglaterra.

A Restauração do 1º de Dezembro não foi a da "Independência", mas sim a da "subordinação" à Inglaterra, que se tem mantido, século após século !
A memória é curta… e o ultrajante "Ultimatum" dos "bretões" (ingleses) de 11 de Janeiro de 1890 é já pouco recordado.
Originalmente, dizia a letra de Henrique Lopes de Mendonça, musicada por Alfredo Keil :
"…
Pela Pátria lutar
Contra os bretões marchar, marchar!
"
O "Contra os bretões" foi, em 1911, alterado pela República maçónica (para acalmar as "Lodges" britânicas), para "Contra os canhões…".

Mas, a História de Portugal está pejada de Restaurações :
- a de D. João I, "mestre da Ordem de São Bento de Aviz", uma seita também denominada "Milícia de Évora" ou "Freires de Évora", que nos colocou na dependência da Inglaterra (tratado de Windsor) ;
- a do oitavo duque de Bragança, que confirmou Portugal como "dependência" inglesa ;
- a de Pedro "Ipiranga", imperador do Brasil e impulsionador do liberalismo maçónico ;
- a da "República", que coloca a Maçonaria-carbonária no poder ;
- a do "Estado Novo", que subordina a cultura portuguesa a uma perspectiva cristã apostólica-catequista ;
- a do incontornável 25 de Abril, a das "amplas liberdades", que entrega Portugal "atado de pés e mãos" à "Nova Ordem Mundial".

No presente, a Restauração "soarista-cavaquista", um sub-produto das "amplas liberdades", continua a manter-nos intransigentemente dependentes do estrangeiro (União Europeia ; OTAN…), sujeitos a uma invasão alógena complementada pelo fecho de maternidades e apoio ao aborto, incutindo-nos o acto social como causa de negócio e a cultura como produto comercial, posicionando-nos objectivamente como um "residuo social" europeu !

Ainda recentemente foi anunciado que Portugal é o sexto país mais pobre dos 30 estados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o que não impede os megalómanos projectos de comboios de alta velocidade e grandiosos aeroportos.
Segundo a própria organização, o PIB per capita nacional passou de 72%, em 2002, para 69% da média da OCDE, em 2005 (dados mais recentes).

É caso para perguntar quando chegará a "mãe de todas as Restaurações" ?
A que, definitivamente, restaure tanta Restauração…

Embora seja meu profundo convencimento de que o necessário não é "mais uma Restauração", mas sim "um Renascimento" !
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4 comentários:

Anónimo disse...

Brilhante! Sob todos os pontos de vista, da restituição da verdade histórica, da denúncia da sempre presente manipulação Inglesa, da necessária solução...

Rodrigo

Nuno Adão disse...

Renascimento, imposto pela lei do mais forte.
"O povo tem que ser levado à civilização nem que seja sob grilhões"
Imagine o meu amigo que foi o autor desta máxima?

Cumprimentos divinos

António Lugano disse...

Rodrigo
Grato pelo apoio e compreensão.
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Thoth
Sinceramente... não sei !
Se me esclarecesse, ficaria grato.
.
Cordiais saudações

Nuno Adão disse...

Marco Aurélio, Imperador e filósofo Estóico...

Cumprimentos